quarta-feira, 18 de junho de 2008

O projeto Minerva

Resumo

Desde cedo foi percebido o grande potencial do rádio tanto político como educacional. Como uma dessas tentativas, temos o Projeto Minerva, que substituiu o MEB. Este trabalho busca analisar esse projeto , sua configuração e o uso do rádio como meio difusor.

Palavras-chave: rádio, educação, Projeto Minerva.

Introdução

Até a década de 1950, o Brasil não possuía iniciativas para reduzir o índice de analfabetismo do país , que era muito grande. De acordo com Ferraro (2002), 50,5% da população de 15 anos ou mais no Brasil era analfabeta. Em 1961, foi criado o MEB (Movimento de Educação de Base),uma iniciativa da CNBB com apoio da presidência da República, programa que promovia uma verdadeira mobilização nacional em prol da alfabetização de jovens e adultos através do rádio.Na década de 60, índice de analfabetismo caiu para 39,6% (Bof,2005). O MEB foi extinto por ocasião da Ditadura Militar

Então, na década de 70, o Projeto Minerva substituiu o MEB (Movimento de Educação de Base).Utilizando também o rádio, o projeto Minerva tinha como alvo reduzir o analfabetismo no país, trazendo a idéia de solução de todos os problemas educacionais, conforme o ideal de educação do Governo Militar, disponibilizando diversos cursos. Esse projeto, porém, não teve o alcance do MEB, pois o seu conteúdo ficou muito centralizado na realidade das regiões sul e sudeste, não conseguindo conquistar a audiência da população das outras regiões.

O projeto

O Projeto Minerva foi criado em 01 de setembro de 1970, concebido pelo Ministério da Educação, Fundação Padre Anchieta e Fundação Padre Landell de Moura, com base na Lei 5692/71, fundamentado no Código brasileiro de Telecomunicações (1962) e tendo como suporte a portaria interministerial de nº 408/70, que determinava a transmissão de programação educativa em caráter obrigatório, por todas as emissoras de rádio do país. O foco principal do projeto era a educação de jovens e adultos, atendendo aos níveis de 1º e 2º graus. Segundo Castro (2007), o programa era destinado especialmente a alunos com 16 anos com nível de escolaridade correspondente à 4ª série. O rádio foi escolhido por ter um custo mais baixo no que se referia à aquisição e manutenção de aparelhos receptores e pela familiaridade da clientela com o rádio, bem como por ter a possibilidade de alcançar a população onde quer que estivesse. De acordo com Monteiro (1997),

além de usar o rádio como meio de comunicação de massa para fins educativos e culturais, o Projeto Minerva visava atingir a pessoa onde ela estivesse para desenvolver suas potencialidades. Era voltado ainda, à divulgação e orientação educacional, pedagógica e profissional, inclusive à programação cultural de interesse das audiências.

O Governo Militar propunha uma mudança na área educacional, acreditando que o rádio e a televisão trariam uma solução imediata para os problemas educacionais do país (Monteiro, 1997). O projeto Minerva vinha ratificar essa idéia, tendo como alvo a educação de jovens e adultos, mas ao contrário do MEB, não focalizava a alfabetização.

Castro (2007) descreve a estrutura do projeto Minerva, que consistia em quatro formas de recepção: Recepção organizada, que ocorria em radiopostos, com a supervisão de um orientador da aprendizagem; Recepção controlada, na qual os alunos recebiam a transmissão isoladamente, reunindo-se com o orientador da aprendizagem para realizar trabalhos, receber explicações e fazer verificações da aprendizagem, semanal ou quinzenalmente, no Centro Controlador ;Recepção isolada, na qual os alunos recebiam a transmissão isoladamente, em suas próprias casas, e não se comprometiam a ir ao Centro Controlador, mas poderiam ser atendidos pelo Núcleo de Ensino por Correspondência, que tinha por objetivo o atendimento dos alunos em apoio aos cursos via rádio, fornecendo acompanhamento didático-pedagógico e acompanhando o progresso a distância; , e Recepção livre, na qual o aluno ouvia os programas sem estar inscrito no curso, não havendo avaliação.

De acordo com Alonso (1996), eram oferecidos diferentes tipos de curso pelo projeto, como o curso de qualificação para 2º grau, que revisava os conceitos fundamentais da escola de 1º e 2º graus, preparando para o exame de “MADUREZA”, abrangendo as disciplinas português, matemática, historia, geografia e ciências, e com duração total de 50 horas; o curso de “MADUREZA” para formação de 1º e 2º graus, com o objetivo de melhorar a escolarização dos estudantes, com duração de 125 horas, precedido de um curso preparatório; o curso de “Moral e Civismo”, com o objetivo de reforçar o sentimento de nacionalidade, composto de 15 sessões de 15 minutos cada uma e o curso de conteúdos básicos em português, matemática, ciências, estudos sociais, princípios do trabalho, educação sanitária e formação moral e cívica voltados para o 1º grau . Além dos programas eram oferecidos como apoio 33 jornais do Telecurso, vendidos nas bancas de jornais (Castro, 2007).

Observa-se então que as aulas, que aconteciam através de programas radiofônicos prontos, não levavam em conta a diversidade cultural de seus alunos, já que onde estivessem receberiam o mesmo conteúdo. Não havia a preocupação em partir do conhecimento que os alunos já possuíam, eles eram colocados na posição de consumidores de informações. Havia também o uso político do rádio, visando fortalecer a ideologia dominante, reforçada pelo nacionalismo na Ditadura Militar.

Castro (2007) mostra como se dava a transmissão dos programas:

Os programas eram transmitidos de duas formas: a rádio MEC mandava a programação à Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações) ou à Agência Nacional que transmitiam a determinadas emissoras que passavam a operar como centros distribuidores ou era feito o tráfico (*sic) de fitas magnéticas para os estados e territórios não servidos pela Embratel ou pela Agência Nacional ou que, mesmo atendidos, apresentavam dificuldades na programação do sinal. Assim, a estação que recebia a fita passava a gerar o som para que as outras repetissem.

O projeto foi transmitido por 1200 emissoras de rádio e 63 emissoras de televisão, em rede nacional, sendo mantido até a década de 1980, mas sofreu várias críticas devido ao seu baixo índice de aprovação, já que o projeto visava a preparação para os exames supletivos de Capacitação Ginasial e Madureza Ginasial, tendo a educação o pressuposto da preparação da mão-de-obra (Rodrigues, 2003). Nota-se então que o objetivo claro era preparar mão-de-obra e não a formação de cidadãos críticos, questionadores, capazes de compreender os processos em que estão inseridos e ressignificá-los, e isso é bem condizente com o período da Ditadura Militar, sob o slogan “Brasil: ame ou deixe-o”, período em que não havia espaço para os que questionavam o sistema.

O estado da Bahia não adotou o projeto Minerva, criando um projeto paralelo, o projeto IRDEB, financiado pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, pela Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional (ACDI) e pelo Programa Nacional de Tele-educação (PRONTEL). Essa iniciativa perdurou até 1977, tendo atendido nesse período mais de 78 mil pessoas (Perrone, 2003) . A Bahia usou sua experiência na Educação a Distância e criou esse projeto que tinha o diferencial de oferecer formação de professores e contar com monitores presenciais, sendo o projeto que teve o menor índice de evasão da época (Cunha, 2006).

As principais críticas ao Projeto Minerva, segundo Lima (apud Alonso, 1996) foram com respeito aos currículos que eram extremamente simplificados, devido à falta de preparo das equipes, as horas destinadas à programação do projeto não foram cumpridas, as pessoas não reconheciam a rádio e a TV como meios educativos, os conteúdos não foram adaptados à realidade da população das diferentes regiões do país e o número insuficiente de equipes regionais para atender a demanda de solicitações por parte dos alunos. Além desses fatores, também a evasão, que teve um índice elevado. Há ainda um aspecto considerado por Del Bianco (2001), que afirma: que “a regionalização, que poderia ter sido a marca de sucesso, não obteve êxito neste caso porque ficou concentrada no eixo Sul–Sudeste. Com tais características, o Projeto Minerva não respondia à diversidade cultural (costumes, sotaques, modo de vida) e nem às necessidades e interesses de cada região do país”.

A avaliação ficava a cargo da Equipe Nacional do projeto, que elaborava três testes para cada disciplina e distribuía para os estados, que possuíam autonomia para aplicar outros instrumentos de avaliação. Já a certificação ficava a cargo das Secretarias Estaduais de Educação.


Observa-se então que o objetivo do Projeto Minerva era alcançar o público onde estivesse, mas seu caráter totalmente desconectado da realidade fez com que o projeto não conseguisse atingir esse objetivo. Segundo o site Aprendiz, a população chegou a apelidar o projeto de “Me Enerva” (Aprendiz, 2001).De acordo com Alonso (1996), 300.000 pessoas tiveram acesso às emissões radioeducativas e destes, 60.000 solicitaram o exame de Madureza, no entanto, somente 33% deles foram aprovados. O projeto chegou ao fim no início da década de 1980, “por motivos políticos e pela falta de visão do uso do rádio (como meio de levar a educação) por muitos dos responsáveis pelo MEC”, de acordo com Blois (apud Castro, 2007).

Considerações finais

A análise do projeto Minerva mostra que não basta apenas usar as tecnologias disponíveis apenas como meio de dar aulas diferenciadas, mas devem ser usadas contando com a participação dos envolvidos, partindo da realidade destes, a fim de que lhes dê condições de transformar o meio em que vivem e sua relação com ele, ressignificando suas práticas, levando sempre a um processo de ação-reflexão-ação.

O projeto Minerva não foi bem aceito pela população justamente por estar desconectado da realidade, por não partir dos conhecimentos prévios dos alunos, não estimulando assim seu interesse e seu potencial. Essas são características da época do Governo Militar, que pretendia inovar para a conservação, usando o rádio somente como ferramenta, fazendo uso da familiaridade do povo com esse meio de comunicação, em vez de usá-lo como estruturante, possibilitando a produção de conhecimento.

Referências Bibliográficas


ALONSO, Katia Morosov. Educação a distancia no Brasil:A busca de identidade. Disponível em:www.nead.ufmt.br/documentos/Ident.doc .Acesso em 21/06/2007.


APRENDIZ . Disponível em :http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_revistas/revista_educacao/outubro01/capa.htm. Acesso em 21/06/2007.


BOF, Alvana Maria. Educação de Jovens e Adultos. Disponível em: www.iets.org.br/article.php3?id_article=392 . Acesso em 25/06/2007


CASTRO, Márcia Prado. Disponível em: www.pucsp.br/pos/edmat/mp/dissertacao_marcia_prado_castro.pdf . Acesso em 21/06/2007


CUNHA, Ana Maria de Jesus Sousa da. Arte-Educação a Distância: Uma análise da formação continuada on-line na Universidade de Brasília. Disponível em: www.vis.ida.unb.br/posgraduacao/disserta_tese/dissertacao__anamariajesus.pdf. Acesso em 22/06/2007.


DEL BIANCO, Nélia R. Rádio e educação na perspectiva do Sebrae. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/revistasebrae/02/artigo7.htm. Acesso em 22/06/2007.


FERRARO, Alceu Ravanello. Analfabetismo e níveis de letramento no Brasil: o que dizem os censos?. Educ. Soc., Campinas, v. 23, n. 81, 2002. Disponível em: www.scielo.br/pdf/es/v23n81/13930.pdf. Acesso em: 25 Jun 2007. Pré-publicação.


MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos."Projeto Minerva" (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002, http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=291 , visitado em 21/6/2007.


MONTEIRO, Claudia Guerra. O papel educativo dos meios de comunicação. Disponível em: http://www.ipv.pt/forumedia/3/3_fi3.htm . Acesso em 21/06/207.


PERRONE, Jorge Luiz Falcão. Proposta de um ambiente de Educação A Distância( EducNet ). disponível em : http://www.abed.org.br/nordeste/downlaad/perrone.pdf . Acesso em 22/06/2007


RODRIGUES, Iracema Stancati. A mudança da prática pedagógica no modelo presencial para o modelo de educação a distância sob as óticas da Teoria da Atividade e da Metodologia Inovadora. Disponível em: http://www.abed.org.br/seminario2003/texto12.htm. Acesso em 21/06/2007.


SOUZA,Mathias Gonzalez de. Limites e possibilidades do rádio na educação a distância. Disponível em: www.abed.org.br/seminario2006/pdf/tc013.pdf . Acesso em 21/06/2007.




1 comentários:

Unknown disse...

O ARTIGO É MUITO GOSTOSO DE LER. AS INFORMAÇÕES E AS REFERÊNCIAS SÃO EXCELENTES E ACESSÍVEIS A QUALQUER LEITOR. Silene

 
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